Estudios originales

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Supervisão clinica: que estratégias?

Strategies for clinical supervision

Resumen

Atrevera-nos a afirmar que a supervisão clínica não é mais que a aprendizagem num cenário, através da descoberta guiada. Se o conceito de reflexão é central quando se fala de supervisão clínica, é fundamental que o supervisionado reflicta sobre o papel que desempenha como indivíduo na complexidade dos eventos e na qualidade das suas práticas. Esta reflexão deve ser facilitada por uma pessoa mais experiente que tem perícia para o acompanhamento. Foi nosso objectivo conhecer a satisfação relativa à execução de portefólios reflexivos, dos alunos dos cursos de pós licenciatura de enfermagem da Escola Superior de Saúde de Leiria, através de um estudo de natureza quantitativa, de carácter descritivo-exploratório.

Introducción

Abordarmos a temática da supervisão clínica, é debruçarmo-nos no actual paradigma da formação em enfermagem. Alunos de enfermagem, docentes e enfermeiros, confrontam-se actualmente com a necessidade de rever modelos de formação, sustentados fundamentalmente no conceito da colaboração entre pares, onde o aluno é o centro do processo formativo.

Cogan, Goldhammer e Anderson, da Universidade de Harvard no final do anos 50, no domínio das ciência da educação e da pedagogia, introduziram o conceito de supervisão clínica, como resposta aos seus alunos, que se queixavam de que os seus supervisores não os conseguiam ensiná-los a ensinar. Estes investigadores decidiram que este modelo implicava um espírito de colaboração entre o supervisor e o professor, onde o professor era um agente dinâmico e o supervisor o que ajudava a analisar e a repensar o seu próprio ensino. Para estes autores, o conceito ‘clínico’, espelha a influência do modelo clínico da formação dos médicos em que o supervisor adopta, no contexto da prática hospitalar, uma atitude de atenção e apoio às necessidades do formando.

Se o ensino de enfermagem assenta especialmente sobre o domínio prático, onde o aluno deverá de ser capaz de converter o saber teórico para a prática clínica, o ensino da enfermagem em Portugal tem sofrido algumas transformações e alterações curriculares1.

A partir dos anos oitenta, o ensino da enfermagem foi integrado no ensino superior politécnico, o que determinou não só um aumento do nível de desenvolvimento do processo formativo, como da necessidade premente da realização de investigação em enfermagem1. Considerando a enfermagem uma ciência, com o corpo de conhecimentos próprio, tem sido necessário fomentar nos alunos de enfermagem o cariz científico de tal ciência, fomentar uma formação sólida e facilitar o desenvolvimento de capacidades de análise crítica e inovação, sendo necessário para tal, a utilização de novas metodologias de orientação dos alunos, nomeadamente no ensino prático. Este anseio e necessidade, foi plasmado na legislação portuguesa no ano de 1992, quando pelo decreto-lei 166/92 de 5 de Agosto, se define o regime aplicável ao pessoal docente das Escolas Superiores de Enfermagem, nomeadamente, no que respeita ao tempo de contacto directo com os alunos (Carvalhal 2003). Deste modo, não só há a necessidade de introduzir claramente o enfermeiro da prática clínica no processo pedagógico, como também de incrementar um modelo sustentado de supervisão clínica.

Métodos

Metodologia quantitativa, de carácter descritivo-exploratório. Os participantes dos estudo foram todos os alunos que terminaram cursos de pós licenciatura em enfermagem, da Escola Superior de Saúde de Leiria, ou se encontram na fase final dos mesmos, que realizaram portefólios durante o seu percurso académico e se mostraram disponíveis para participar, através de um pequeno questionário online. O questionário apresentava uma pequena caracterização dos indivíduos que participaram no estudo, uma questão do tipo likert de cinco pontos relativa à satisfação de realização do portefólio, e duas questões em que os participantes enunciavam aspectos positivos e negativos no que concerne à realização do portfólio. Os questionários foram disponibilizados através da ferramenta ‘google docs’,e foram enviados para o correio electrónico dos alunos. No enunciado de cada questionário foram tecidas considerações relativas aos procedimentos éticos, tal como a asseveração da confidencialidade dos dados e livre participação dos sujeitos.

Resultados

Neste estudo, o número de participantes foi de quarenta e dois, sendo que 28% eram do sexo feminino, com uma média de idade de 31 anos. 42,5% dos participantes frequentam ou frequentaram há menos de um ano, o curso de pós licenciatura de enfermagem de saúde materna e obstetrícia. No que concerne ao grau de satisfação face à realização do portefólio, 26,2% mostram-se pouco satisfeitos, seguidos de 23,8% que referem estar satisfeitos. Relativamente à realização do portefólio, o aspecto positivo mais evidenciado por parte dos participantes, relaciona-se com a possibilidade de reflexão (57,1%), tendo como aspecto negativo o medo de ser lido por outros (31%) e a exposição a outros de aspectos de domínio privado ou relacionados com opinião (26,2%).

Conclusión

Pelos dados obtidos é evidente que a realização do portefólio é enunciada pela maioria dos participantes como uma ferramenta que implica algum grau de exposição ao outro, não trazendo um elevado grau de satisfação a quem o realiza, embora a reflexão seja um dos aspectos positivos mais apontado. Repare-se que a prática reflexiva é pedra basilar deste instrumento, já que a mesma será uma óptima ferramenta ao serviço de consolidação dos objectivos e das exigências, a que um novo modelo de formação na enfermagem nos propõem. A chamada racionalidade crítica que permite avançar e/ou recuar nas nossas acções promovendo a mudança e a construção de saber ao serviço de todos, terá que ser trabalhada, validada e ajudada a construir por todos os intervenientes no processo formativo, criando uma maior satisfação ao formando. Pelos dados obtidos também é possível verificar, que os participantes enunciam a realização do portfólio como uma carga de trabalho adicional. O processo formativo envolvido neste cenário combina acção, experimentação com reflexão dialogante entre o observado e o vivido, sendo que se aprende, fazendo e pensando. Neste cenário o supervisor clínico deverá encorajar à reflexão na acção, à reflexão sobre a acção e à reflexão sobre a reflexão na acção, com benefício para o supervisionado e para ele próprio que desenvolverá em si a capacidade de autosupervisão. Porque ainda estamos longe deste cenário, os professores terão de ser capazes de gerir o processo formativo utilizando novas ferramentas, centrando a acção no aluno, com as suas singularidades e com os seus tempos, dando-lhe claros sinais de confiança e de sigilo, para que este processo não se transforme num processo artificial e construído.